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A CORRUPÇÃO NA JUSTIÇA
O Estado de S. Paulo - 11/08/2011
Elaborado
com base nas inspeções feitas pela Corregedoria Nacional de Justiça e
divulgado pelo jornal Valor, o relatório do Conselho Nacional de
Justiça (CNJ) sobre as irregularidades cometidas pela magistratura nas
diferentes instâncias e braços especializados do Judiciário mostra
que a instituição pouco difere do Executivo em matéria de apropriação
indébita e malversação de dinheiro público, de mordomia, nepotismo e
fisiologismo, de corrupção, enfim as maracutaias são tantas que é
praticamente impossível identificar o tribunal com os problemas mais
graves. Em quase todos, os corregedores do CNJ constataram centenas de
casos de desvio de conduta, fraude e estelionato, tais como
negociação de sentenças, venda de liminares, manipulação na
distribuição de processos, grilagem de terras, favorecimento na
liberação de precatórios, contratos ilegais e malversação de dinheiro
público. No Pará, o CNJ detectou a contratação de bufês para festas de confraternização de juízes pagas com dinheiro do contribuinte. No Espírito Santo,
foram descobertos a contratação de um serviço de degustação de cafés
finos e o pagamento de 13.º salário a servidores judiciais exonerados.
Na Paraíba e em Pernambuco,
foram encontradas associações de mulheres de desembargadores
explorando serviços de estacionamento em fóruns. Ainda em Pernambuco, o
CNJ constatou 384 servidores contratados sem concurso público - quase
todos lotados nos gabinetes dos desembargadores. No Ceará, o Tribunal de Justiça foi ainda mais longe, contratando advogados para ajudar os desembargadores a prolatar sentenças. No Maranhão,
7 dos 9 juízes que atuavam nas varas cíveis de São Luís foram
afastados, depois de terem sido acusados de favorecer quadrilhas
especializadas em golpes contra bancos. Entre as entidades ligadas a
magistrados que gerenciam recursos da corporação e serviços na
Justiça, as situações mais críticas foram encontradas nos Tribunais de Justiça da Bahia e de Mato Grosso e no Distrito Federal,
onde foi desmontado um esquema fraudulento de obtenção de empréstimos
bancários criado pela Associação dos Juízes Federais da 1.ª Região.
Em alguns Estados do Nordeste, a
Justiça local negociou com a Assembleia Legislativa a aprovação de
vantagens funcionais que haviam sido proibidas pelo CNJ. Em Alagoas,
foi constatado o pagamento em dobro para um cidadão que recebia como
contratado por uma empresa terceirizada para prestar serviços no mesmo
tribunal em que atuava como servidor. O balanço das fiscalizações
feitas pela Corregedoria Nacional de Justiça é uma resposta aos
setores da magistratura que mais se opuseram à criação do CNJ, há seis
anos. Esses setores alegavam que o controle externo do Judiciário
comprometeria a independência da instituição e que as inspeções do CNJ
seriam desnecessárias, pois repetiriam o que já vinha sendo feito
pelas corregedorias judiciais. A profusão de irregularidades constatadas
pela Corregedoria Nacional de Justiça evidenciou a inépcia das
corregedorias, em cujo âmbito o interesse corporativo costuma
prevalecer sobre o interesse público. Por isso, é no mínimo discutível
a tese do presidente do STF, Cezar Peluso, de que o CNJ não pode
substituir o trabalho das corregedorias e de que juízes acusados de
desvio de conduta devem ser investigados sob sigilo, para que sua
dignidade seja preservada. "Se o réu a gente tem de tratar bem, por
que os juízes têm de sofrer um processo de exposição pública maior que
os outros? Se a punição foi aplicada de um modo reservado, apurada sem
estardalhaço, o que interessa para a sociedade?", disse Peluso ao
Valor.
Além
de se esquecer de que juízes exercem função pública e de que não
estão acima dos demais brasileiros, ao enfatizar a importância das
corregedorias judiciais, o presidente do STF relega para segundo plano
a triste tradição de incompetência e corporativismo que as
caracteriza. Se fossem isentas e eficientes, o controle externo da
Justiça não teria sido criado e os casos de corrupção não teriam
atingido o nível alarmante evidenciado pelo balanço da Corregedoria
Nacional de Justiça.
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SE A JUSTIÇA NÃO MERECE RESPEITO O QUE MAIS FALTA PARA O PAÍS AFUNDAR?.
O EXECUTIVO ROUBA EM CONLUIO COM O CONGRESSO, E A JUSTIÇA NÃO JULGA.
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